A saga de um app
Quando eu tinha 10 anos de idade meus pais me deram um microcomputador MSX, lembram? Pois é, um sistema de 8 bits que rodava um interpretador BASIC sem sistema operacional por trás. Virou meu hobby na época. Devorei alguns livros de programação e fui aprendendo a “mandar” no computador.
O código PRINT “Meu nome é Alexandre Fugita” era a coisa mais divertida do mundo. Falar pro MSX desenhar um círculo na tela, beirava o delírio. Claro, estou exagerando, mas passei parte da minha pré-adolescência em frente ao tal do microcomputador, programando. Do BASIC fui direto para uma linguagem de baixo nível, o Assembler. A ideia era conseguir softwares mais rápidos escrevendo no código binário da CPU do velho MSX, que rodava a incríveis 3,75 Mhz… (sim, umas 1000 vezes menos que um computador atual).
Ah, e estamos falando de 1985, ano do excelente filme De Volta para o Futuro. Depois disso aprendi a programar um pouquinho em Visual Basic no PC, mas não entendia aquela história de programação orientada a objetos. Arrisquei desenvolvimento para mobile com o finado Palm OS. Criei um dos muitos apps de dividir a conta da mesa de um bar, mas nunca publiquei, mantive apenas para os amigos. Ainda não entendia direito o tal dos objetos, classes, etc.
Já mais recentemente, quando resolvi criar este blog (2006), fui “forçado” a aprender PHP. Não só isso como também um pouco de noções de banco de dados e o sistema operacional Linux. Não fiz grandes coisas em PHP, apenas um ou dois plugins para uso próprio no WordPress.
Nos últimos 27 anos (nossa, sou velho!) tive experiências diversas em desenvolvimento de software em plataformas diferentes. Nada profissional, sempre como um hobby. Mas comecei a amadurecer a ideia de que precisava criar meu próprio negócio. Trabalhar para os outros paga o “leitinho das crianças”, dá uma vida razoavelmente confortável, mas não era isso que eu queria.
O problema é que eu ficava sempre na ideia. Explico: a toda hora enxergava a melhor oportunidade da última semana em criar um negócio e ganhar quaquilhões de dinheiros. E ouvi de muitos empreendedores que o negócio é executar a ideia e não apenas pensar nela. Executar… Fazer… Por em prática… Era isso que faltava para mim.
O surgimento de um mercado maduro de apps proporcionado pelas plataformas iOS e Android ficava me chamando: “desenvolve pra mim, desenvolve pra mim”. Resolvi atender o chamado. No final do ano passado consegui uma rara condição em que tinha duas coisas “sobrando”: tempo e um pouco de dinheiro para segurar uns meses sem renda. Era a oportunidade. Agora ou nunca.
Optei pelo “agora”! Vou gastar meu tempo desenvolvendo um negócio. Mas o quê? A minha experiência dos últimos anos apontava para “agência de comunicação em mídias sociais”. Mas será que era isso mesmo? E aqueles 27 anos como developer amador, aquela paixão por código? Pois é, isso falou mais forte. Bem mais forte.
“Vou arriscar no mercado de aplicativos para smartphones”, pensei. Mas eu não fazia ideia como programar para iPhone e nem para Android. Orientado a objetos. De novo os objetos, malditos objetos. Apesar de entender o conceito, não compreendia como funcionava. Comprei uns e-books na Amazon (sim, decidi só comprar livro eletrônico a partir de agora) sobre iOS e Android. Dois de cada. Aumentou para 3 de cada. Quatro. Uma prateleira de livros virtuais. Dólares e dólares causando problemas na balança comercial entre o Brasil e os EUA.
Li e resolvi fazer o mesmo que quando tinha 10 anos de idade: copiar o código dos livros, não com copy/ paste e sim olhando e digitando no MacBook pra aprender aquele código que parecia indecifrável para quem tinha aprendido BASIC e PHP em outra eras. Um mês se foi. Dois meses. 3 e contando. Aprendi uma ou duas coisas, mas o que criar com esse conhecimento? Potência não é nada sem controle, já dizia aquele comercial…
Foi quando li em algum blog que lá pra frente, no meio de 2012 os números de celular de SP iriam ganhar um dígito a mais. Seriam 9 dígitos devido ao esgotamento das combinações de celular possíveis. Faltava muito tempo para isso ainda, mas coloquei como objetivo: criar um app para resolver esse problema fundamental. Acho que já estávamos em Abril deste ano, por aí… 4 meses sem renda, o caixa diminuindo.
Chamei meu irmão, o Newton (Fugita, claro!). Ele é designer, desenha embalagens de produtos que você usa, mas nunca mexeu com mobile. Proponho: “vamos trabalhar de graça como sócios para criar esse app?” Ele topou, muito bom!
Dias inteiros em frente ao computador, noites inteiras. Namorada compreensiva. Pressões de prazo que eu mesmo criava. Milhares de coisas acontecendo. Instagram vendido pro Facebook. Microsoft anuncia tablet quadradão. Google pula de paraquedas para demonstrar óculos conectados. Telefônica agora é Vivo. Corinthians Campeão da Libertadores!
O app ficou pronto, estamos no final de Junho de 2012. O processo de review da Apple é cruel. Demora quase duas semanas para eles darem uma olhada. O primeiro envio foi reprovado, droga. O segundo envio foi angustiante. Quase duas semanas e nem sinal da Apple dizer se o app está ok para os altos padrões dela. Falta menos de 1 semana para o dia 29 de Julho! E agora?
E na última quarta-feira, finalmente o email que tanto esperava. Seu app está em review disse a empresa da maçã. Ficou em review cinco angustiantes horas. Passei mal… fiquei nervoso… não conseguia pensar… Se a Apple não aprovar agora foram 7 meses jogados no lixo. 7 meses! Eu podia estar trabalhando para alguém, mas… 7 meses! É quase um filho.
É um filho! A Apple aprovou! \o/ \o/ \o/ \o/ \o/ A Apple aprovou!!! Você não está entendendo, a Apple aprovou!!! \o/ \o/ \o/ \o/ \o/
Felicidade total! É um filho! A Apple aprovou!!! Vamos divulgar! Quero dizer… vou divulgar! Já tinha criado um Facebook, um Twitter, um site, uma lista de contatos em blogs e grande mídia. Vamos começar a trabalhar. Eram 20h da última quarta-feira, dia 25 de Julho de 2012.
O #9Digitos foi aprovado na AppStore \o/ migre.me/a2GsF
— 9 Dígitos (@9Digitos) julho 25, 2012
Email para meus pais, email para meus irmãos. Emails para primos, primas, tios, tias. Divulguei no Facebook, no Twitter, Google Plus, mandei mensagens particulares para um monte de amigos e colegas do meu networking. Blogueiros, jornalistas, ex-chefes, ex-várias coisas. Quarta, quinta, o dia todo, a noite toda, no almoço, no banheiro, em qualquer lugar. Namorada compreensiva, ainda bem! E ela (Claudia Midori) ajudou bastante na divulgação! Aliás todos ajudaram bastante na divulgação. Muito obrigado!
O app se chama 9 Dígitos e faz a atualização dos contatos do iPhone para o novo formato de celulares de São Paulo. É um app feito com muito suor e carinho. Feito com vontade, feito para ser o melhor da sua categoria.
Essa é a história de um app. É a minha história e das pessoas ao meu redor. É a minha chance, não posso deixar escapar.
Site do app: http://9digitos.com
Link na appstore: http://itunes.apple.com/us/app/9-digitos/id540679972?ls=1&mt=8
Leia mais sobre o app:
- No Meio Bit: App do Dia: 9Dígitos–utilíssimo e mais barato que um chopps e dois pastel
- No MacMagazine: Confira mais dois apps que facilitam a inserção do nono dígito em iPhones
- No iG Tecnologia: Veja aplicativos para incluir o dígito 9 nos contatos do celular
- Citação no Infowester: Dígito adicional nos celulares de DDD 11 começam a valer no próximo domingo
- Citação no Tecnoblog: Celulares de São Paulo terão nove dígitos a partir de domingo
- Citação no ClaroBlog: Dicas de como atualizar a sua agenda com o nono dígito
- Na INFO Exame: 9 apps para colocar o nono dígito em sua agenda
- No blog do Rodrigo Ghedin: 9 Dígitos
- Rodrigo Toledo: 9 Dígitos: Alterando os números dos celulares de São Paulo