O valor da informação
Faz uns três anos que parei de ler diariamente jornal, daqueles impressos. Isso não quer dizer de forma alguma que fiquei sem me informar. Naquela época comecei a notar que a maioria das notícias do jornal acabava lendo no dia anterior na interwebs e que não fazia mais sentido acompanhar o mundo com um dia de atraso. Hoje enxergo três tipos de informação que consumo: as em tempo real, as opiniões e as notícias. E cada uma tem o seu valor. Neste post vou tentar explicar como enxergo esse valor e o impacto que a internet tem em cada uma delas.
Notícias
Um jornal impresso é repleto de notícias. Tem outras coisas mas o seu principal material são as notícias. Do dia anterior… quando não tem dois dias de atraso como é o caso do volumoso jornal de domingo. O grande problema é que com a internet a notícia simplesmente virou commodity. E é isso que tem incomodado os grandes grupos de imprensa do mundo.
Quando abrimos o Google News, por exemplo, vemos lá que o Steve Jobs voltou a apresentar um keynote (imagem abaixo). Ok, notícia interessante, mas onde ler? O Google News dá algumas opções principais e coloca no final um link para mais 171 artigos semelhantes. Praticamente todos eles devem falar quase a mesma coisa: Steve Jobs apareceu, Apple lançou iPod nano que permite filmar e atualizou o sistema do iPhone para versão 3.1. Tanto faz se você ler no G1, no Estadão, no Terra, no… pois é… em qualquer lugar.
Como disse a notícia por si só é commodity, tanto faz o lugar que você a está lendo. E isso se for na internet. Imagina esperar para ler só no dia seguinte que é o que um jornal faz. Realmente não dá certo e é esse um dos motivos de eu achar o jornal impresso algo ultrapassado.
Antes que alguém reclame nos comentários, não estou dizendo que a mídia tradicional morreu e sim que o formato jornal impresso não é o mais apropriado para esse tipo de informação.
Tempo real
Um dos grandes benefícios que o Twitter trouxe certamente é a distribuição de informação rapidamente e muitas vezes em tempo real. Um outro é a possibilidade de controlar a taxa de sinal e ruído. O fato do tempo real estar na essência do Twitter torna esse tipo de informação muito valiosa.
Em geral os acontecimentos em tempo real também são notícias. Tanto é que alguns canais como blogs se utilizam do recurso de live-blogging para narrar acontecimentos como as apresentações do Steve Jobs. Aqui no Brasil o Henrique Martin do Zumo estava em São Francisco fazendo a cobertura. E o tradicional Engadget é quase sempre meu ponto de apoio quando quero acompanhar grandes lançamentos e eventos em tempo real.
Muitos tuiteiros brasileiros quando vão a eventos como um recente, o Digital Age 2.0 ou ainda o Blogcamp RJ, inundam seus streamings públicos do Twitter com atualizações de quase cada palavra de um palestrante, além de outros detalhes.
O Read Write Web já fez vários artigos dizendo que o real time é o “the next big thing”. Até o Google começou a se preocupar com isso pois seu mecanismo de busca sempre foi ótimo para coisas que aconteceram mas muito ruim para coisas que estão acontecendo naquele momento. E melhoraram o algoritmo de busca para absorver melhor o tempo real.
O grande diferencial da notícia ser dada em tempo real é que não deu tempo ainda de ela virar commodity. Mas meia hora depois 3517 links no Google News irão aparecer e daí concorrer a um lugar ao Sol. Mas é sempre bom saber que no Twitter sempre vai ter alguém em todos os lugares, até mesmo quando um avião cai por acidente em um rio em Nova York.
Opinião
Certa vez conversando com o Eric Messa, professor da Faap e interneteiro, chegamos ao entendimento que para um blogueiro é melhor ser mais parecido com um colunista do que um repórter atrás de notícias. Isso por que como já foi discutido neste post a notícia é commodity, e o grande diferencial que alguém pode tratar uma notícia é se divulgá-la em tempo real ou antes de todo mundo. E blogs não tem estrutura para isso. Ou pelo menos a maioria não.
Então o que resta ao intrépido blogueiro? Opinião. Tá certo que o Andrew Keen já disse que qualquer opinião não quer dizer nada e só posso concordar com ele. Mas uma opinião bem fundamentada, daquelas de dissertação da aula de redação do colégio sempre são bem vindas. E é esse o nicho que recomendo aos blogueiros, a parte mais difícil, reservada aos colunistas, que é a opinião.
Claro, um blog não precisa ser só opinião. É interessante a forma como o Tecnoblog tratou a sua reestruturação de conteúdo, algo que já pensei em fazer no Techbits (ei, Mobilon, posso copiar a ideia?). Lá existe a home com colunistas e em outra área do blog as notícias sendo alimentadas. Faz todo o sentido para atingir uma grande público.
Acho que faltou citar aqui neste post coisas como revistas – boas para reportagens e análises aprofundadas – e também notícias locais, um nicho interessante a ser explorado, bem como a personalização das notícias. Mas o texto já está grande demais para discutir mais coisas.
E pra finalizar, o grande valor da opinião é que ela não vai virar commodity e também não é efêmera quanto a informação em tempo real. E em um mundo de Google News e Twitter essa é a forma que diferencia qualquer um da multidão.