MediaOn: visões antagônicas
Termina hoje em São Paulo o Media On, 1o. Seminário de Jornalismo Online. E como não poderia deixar de ser, há transmissão em tempo real dos painéis pela internet, coisas que só a mídia digital permite. Acompanhei algumas discussões de ontem e ao mesmo tempo que fiquei entusiasmado com alguns dos participantes, assustei-me com a visão retrógrada de outros. O evento discute várias mudanças que o jornalismo está enfrentando com as mídias digitais. Jornais vendem menos, a TV perde audiência. Pessoas procuram a web para se informar, o YouTube para assitir vídeos. Ou seja, o mundo mudou.
UOL
“O jornalismo participativo é uma atividade parecida com um show de calouros? Os jornalistas farão o papel de jurados?” – Márion Strecker, diretora de Conteúdo do UOL. Segundo ela, “é preocupante que um veículo que se diz jornalístico ‘terceirize’ a responsabilidade sobre o conteúdo para o leitor”. Sim, isso mesmo, a diretora de conteúdo do UOL deve viver no século XIX. O conteúdo colaborativo é quase uma doença que precisa ser tratada com muito cuidado. Blogs precisam de responsabilidade, “chamem os jornalistas” (*), bradou Bob Fernandes (Terra Magazine), ali ao lado. Márion citou veladamente o caso do Engadget que ao divulgar uma notícia supostamente verdadeira que se mostrou falsa minutos depois, causou uma queda de 4 bilhões de dólares no valor das ações da Apple. E a propaganda disfarçada de notícia do asteróide Pallas na home do UOL, Estadão e Terra? Enganou todo mundo e causou tumulto na web.
Fiquei embasbacado com o discurso da diretora de conteúdo do UOL. Como? Sim, UOL, um dos maiores portais brasileiros de informação. Coisas como o Digg seriam a personificação do demônio para ela. Blogs? Só de jornalistas responsáveis. Vendo que seu discurso não agradava, logo tentou consertar dizendo que o UOL possui espaço para blogs pessoais livres. Sim, livres mas que aceitam intervenção dos coroné da república.
(*) nada contra jornalistas. Uma das minhas melhores amigas é jornalista e leitora do Techbits.
Rosental
O oposto foi o Rosental, professor jornalismo da Universidade do Texas. Esse senhor é revolucionário. Afirmou que o jornalismo deixa de ser monopólio de jornalistas, que o hype atual são as conversações entre blogs e também a social media. Disse que em conversas com outros professores de jornalismo muitos afirmam ter medo de ensinar jornalismo digital pois os alunos invariavelmente sabem mais do que eles. O Rosental foi categórico: pois eu adoro ensinar jornalismo digital, deixo meus alunos terem idéias, sirvo mais como um guia e não aquele que detém a última palavra. Falou de uma frase do Chris Anderson, autor do ótimo A Cauda Longa: “eu faço o que os estagiários me mandam”.
Citou o crowdsourcing como parte fundamental da nova era e a mídia epicêntrica na qual o usuário é que decide quando vai consumir o conteúdo. Nada de grade fixa da TV, isso é coisa de dinossauros. Para o Rosental a revolução que estamos vivendo agora é do mesmo grau que séculos atrás Gutenberg fez ao inventar os tipo móveis e baratear os custos de distribuição de conteúdo. A internet derruba novamente estes custos, agora para quase zero. Ao ser questionado por uma estudante de jornalismo sobre o que fazer para ficar por dentro do mercado enquanto estudante, Rosental afirmou: “crie um blog”. Fantástico.
A questão é o que dá mais lucro!
A queda de assinatura de jornais e revistas impressos, faz com que estas pessoas tenham a visão de que o jornalismo clássico seja essencial para a disseminação da informação. Com disseminação da informação gratuita por meio de blogs e sites via internet, deixa de ter sentido você comprar um jornal com notícias de ontem.
Não tem nada que mais assuste uma redação do que trabalhar com notícias “velhas”, e competir com blogs do porte e com a abrangência do Engadget ou Gizmodo chega a ser covardia… Adivinha quem ganha com isso!? :)
Seleção natural, adapte-se ou seja extinto!
eu compararia essa revolução da informação com algo que (aparentemente) já está superado no campo da educação: à mudança da idéia do professor como o senhor detentor de todo o saber, e o aluno (=”sem luz”) apenas como um agente passivo do processo de aprendizado.
da mesma forma, a idéia da grande mídia como a detentora de toda a informação está ficando para trás. assim como alunos podem (e, de fato, têm muito a) ensinar, pessoas comuns (“não-jornalistas”) também tem opiniões e fatos a dizer que a grande mídia, por inúmeras razões (da influência política e econômica dos grandes grupos detentores desses veículos a – usando uma expressão de “A Cauda Longa”, “limitação de prateleira”, o que limita e, portanto, acaba excluindo muita coisa do noticiário mainstream), não mostra. e a medida que as ferramentas de comunicação ficam mais democráticas, essa mudança de paradigma se torna mais e mais inevitável, para a infelicidade de muita gente. ;-)
“Ao ser questionado por uma estudante de jornalismo sobre o que fazer para ficar por dentro do mercado enquanto estudante, Rosental afirmou: “crie um blog”. Fantástico.”
nossa… o kra deitou na resposta hein ! queria ter visto a palestra desse kra =/
[…] visões antagônicas 14 – June – 2007 MediaOn: visões antagônicas – Techbits Termina hoje em São Paulo o Media On, 1o. Seminário de Jornalismo Online. E como não podia […]
[…] Via Techbits. […]
Sensacional a resposta: ” crie um blog”. Somos filhos da revolução. :D
Excelente artigo. Parabéns!
O discurso da diretora de conteúdo do UOL nada mais do que condiz com o atual nível de confiabilidade que alguns dos canais de notícias do portal apresentam hoje.
Abraço, Alexandre!
kadu,
A concorrência blogs vs. mídia tradicional está para estourar. O claro, quem não tiver estrutura para agüentar o tranco vai ficar para trás.
Arthur,
Exato. É o usuário gerando conteúdo especializado, tão bom ou melhor que um jornalista que escreve sobre aquilo. É o professor ensinando e aprendendo com seus alunos. É a troca de idéias, informações.
Diego,
Essa foi a conclusão da resposta. Mas fechou com chave de ouro!
Mário,
Pois é, esse “crie um blog” ficou reverberando na minha cabeça! Obrigado pelo elogio!
Zé Carlos,
O pior que o UOL é um dos sites de conteúdo mais acessados do Brasil.
Abraços a todos!
sorry, mas, por favor, poderia me esclarecer abaixo:
que ódio, cai no conto do vigário ou vc tem dois blogs: http://digitador.blogsome.com/2007/06/14/mediaon-visoes-antagonicas/
começo a ler seu post só agora depois que comentei no blog acima e pela primeira vez sinto ódio do control c porque me senti enganada mesmo…sorry se criei mais confissão, mas são posts quase identicios, senão for identicos…
depois releio aqui pra comentar sobre media on
Olá Ceila!
Bom, o post indicado é uma cópia do meu texto. Simples assim. Na verdade os únicos caracteres a mais colocados foram umas aspas, acho. Aqui no Techbits você só encontra conteúdo original. Sempre.
Abraços!
O Homem-spam, ao vivo no MediaOn!…
A Ceila Santos vai me bater se eu meter o pau no MediaOn, seminário internacional de jornalismo online promovido essa semana pelo Portal Terra, em conjunto com o Itaú Cultural. Independente das próximas linhas, ela sabe que eu adorei o evento. É se…
E aí Alexandre, beleza?
Conheci seu blog agora e vou adicioná-lo à minha lista.
Se quiser uma foto bem bacana da Márion Strecker para ilustrar seu artigo, acessa lá meu blog, hehehe..
Abraços cara!
[…] mas depois conheci a Creative Commons e acabei adotando ela (em parte). Nesta semana eu vi no post MediaOn: visões antagônicas, do Techbits, que um usuário copiou diretamente o conteúdo do Alexandre Fugita e nem sequer […]
Leonardo,
Legal, via a foto da Márion no seu blog, hehe!
Até!
já tem até mashup da diretora com nosso ministro da cultura: http://youtube.com/watch?v=PiOdkVKYFGU
Meu nome é Alexandre Fujita. Coincidência não?
Gostaria de fazer uma crítica, pois hoje fui abordado por alguns colegas no trabalho atribuindo a autoria destes comentários a mim.
E…olhando na sessão SOBRE obtive:
Colaboradores
Alexandre Fugita não é jornalista e nem trabalha na área de tecnologia. É apenas um aficcionado pelos assuntos discutidos neste blog
Isso é muito pouco para identificar QUAL Alexandre Fuj(g)ita está
opinando, e vc, como eu, já deve ter se deparado com a troca do g pelo j em diversas oportunidades.
Como teu blog tem alguma audiência, e consegui perceber isto após ter sido abordado (eu particularmente não o conhecia) entendo que vc deveria dar mais elementos para diferenciar os Alexandres Fujitas (eu conheço mais 2 homônimos pelo menos).
Retornarei para ver a tua resposta.
Agradecido
Alexandre Fujita
João da Silva nipônico?! :)
Cara quase-xará, Alexandre Fujita,
Bom, posso lhe garantir que eu não sou você! E pode mostrar isso para seus colegas de trabalho.
Pelo que entendi vc trabalha no UOL (estou certo?) e como estou fazendo uma crítica à diretora de conteúdo do UOL algumas pessoas vieram lhe perguntar se esse blog era seu.
Bom, nosso nome não é idêntico. Sou Fugita com G e vc Fujita com J. Acho que isso já é mais do que suficiente para nos diferenciar.
Fica aqui um trecho de um texto do João Cabral de Melo Neto, para reflexão:
Morte e Vida Severina
O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mais isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
(…)
Para ler o texto completo:
http://www.culturabrasil.org/joaocabraldemelonetoo.htm
Abraços!
Rafa,
Hehehe, esse vídeo é interessante. Mas, realmente, o conteúdo colaborativo é um perigo!
kadu,
Parece que sim.
Abraços a vcs!
[…] do Itaú Cultural já que rede wi-fi deve soar como palavrão por lá, assim como alguns acham as redes colaborativas uma aberração. O evento era patrocinado pelo Terra, grande portal da internet brasileira. Jornalismo on-line, só […]