O Facebook e a privacidade
Um dos assuntos que me chamou a atenção nos últimos dias é uma funcionalidade adicionada ao Facebook chamada Beacon, um mês atrás. O Beacon é uma ferramenta de recomendação que analisa os hábitos de navegação dos usuários do Facebook em alguns sites e informa sua rede de amigos sobre suas ações. Mais ou menos um BigBrother das suas andanças pela internet. Tudo isso não teria causado polêmica não fosse o fato do Beacon funcionar sem você solicitar e sem possibilidade de opt-out fácil.
Demografia
A ferramenta é excelente para obter dados demográficos que tanto os sites necessitam. Sem eles fica mais complicado vender anúncios, por exemplo. Blogs e sites em geral podem se beneficiar das informações obtidas. Aqui no Brasil o Tecnocracia fez uma pesquisa e o Meio Bit faz uma promoção para obter esses preciosos dados demográficos. Até onde sei outros blogs planejam ações semelhantes. O que o Facebook está fazendo é um facilitador para obter essas informações, um CRM dos hábitos de navegação.
A questão em jogo é como o Facebook está tratando essa vigilância. Foi quase que uma imposição e os usuários se revoltaram. Por causa disso o Beacon estava mutação diariamente para tentar se adequar à demanda dos facebookers. Mas, toda essa vigilância sobre o que fazemos não lembra alguém não? Vou dar uma dica, começa com Goo e termina com gle.
Sim, o Google há tempos é o maior CRM do mundo. Aqui no Techbits já até havia questionado se a gigante de Montain View não seria um spyware disfarçado de mecanismo de busca/ publicidade. Por que será que o Google oferece o Analytics de graça? Para nós é ótimo saber as estatísticas de visitação de nossos blogs. Para eles é excelente saber os hábitos de navegação de todo mundo e um pouquinho mais. Melhoram sua ferramenta de anúncios possibilitando melhor retorno do investimento.
O Facebook não está fazendo nada que a Google já não faz ao armazenar nossos hábitos. O grande problema é que está compartilhando com outros usuários essas informações. Esse é o X da questão. Nós não ligamos que alguém nos vigie, desde que não conte pra ninguém o que fazemos. E se você quer se livrar de qualquer mecanismo de vigilância, aprenda o poder do arquivo Host. É usado para evitar spywares e bloquear anúncios, mas pode ser adaptado para torná-lo invisível da maioria das formas de tracking da web.
Cada vez mais esse tipo de notícia me faz sentir um certo medo, ainda mais quando são “impostas”, como no caso do Facebook, ao invés de serem “opcionais”, como no caso do Google.
Quer dizer, tudo o que um usuário fizer agora no Facebook vai ser automaticamente informado à sua rede de amigos, ou estou enganado? Pelo menos o Google te dá a opção de ativar ou não aquela função que mostra quando você visita o perfil de alguém.
Confesso que não uso o Orkut (apesar de possuir um perfil lá), e muito menos o Facebook. Ainda não consegui ver utilidade em tais redes, e a quantidade de porcaria que se encontra por lá desestimula qualquer um a participar. É claro, sempre existem excessões, mas nem todos tem o “saco” necessário, nem tampouco a paciência, para procurar por tais raras excessões.
Mas mesmo nos termos de serviço do Google, aquela tal empresa que diz “não ser má” :) , não fica muito claro se nossa privacidade será totalmente mantida, e eles também não se responsabilizam muito pelos serviços que oferecem. Sobre o Facebook, nem sei dizer isto ao certo, pois confesso que se entrei umas duas ou três vezes no site do serviço, foi muito.
Eu gosto bastante do Google, de sua filosofia, de suas ferramentas (utilizo diversas delas), e acredito (ou pelo menos tento) que eles não irão modificar sua conduta para com seus usuários. Não que isto seja impossível, mas seria muito fácil eles se “queimarem” se fizessem algo assim.
Mas é aquela estória: na internet, ultimamente, privacidade é “artigo de luxo”, e poucos a conseguem, e quando conseguem, o conseguem somente a duras penas. Infelizmente.
Um futuro negro vem por aí (sempre me bate um “deja vu”, e não consigo parar de pensar no livro 1984). Ou sou muito pessimista? :)
Marcos: a diferença entre o “imposto” e o “opcional” é que você se revolta contra o imposto, enquanto aceita bem mais naturalmente o opcional. Na verdade, o opcional é até pior, porque você faz o que o propositor quer, e que normalmente vai contra seu melhor interesse, achando que é o melhor para você.
Olá, César. :)
Eu entendo o seu ponto de vista, mas não deixo de me “revoltar” contra o que me é imposto, e de ter a liberdade ou não de aceitar o opcional. Veja, em ambos os casos, pelo menos no tipo de serviço que estamos discutindo, existem duas escolhas.
Quando algo é opcional, você tem a escolha, o que já não acontece com o que lhe é imposto.
E, é claro, sempre temos a escolha, tanto no caso do Facebook quanto no caso do Google: basta escolhermos entre utilizá-los ou não, independentemente do que nos é imposto ou é oferecido opcionalmente em ambos os serviços. É simples, no final das contas, mesmo que percamos algum recurso oferecido por ambos.
No meu caso, optei por utilizar serviços do Google mesmo sabendo que nos termos de serviço do mesmo eles se eximem de qualquer tipo de responsabilidade. Eles simplesmente “tiram o corpo fora” se algo der errado, se você perder documentos armazenados no GoogleDocs, etc.
Agora no caso do Facebook, eu estou, literalmente, fora…rs Mesmo porque, não vejo essas redes sociais com bons olhos, sei lá. Bom, é a minha opinião, né. :)
Um grande abraço!
Estamos revivendo o caso da double click e hoje saiu saiu a notícia de que será possível desativar o sistema, de qualquer forma, não creio que será assim tão fácil.
Ontem na lista da blogosfera um representante da via6 anunciou um serviço semelhante, mas há a opção de mandar ou não os dados para o perfil, parece ser um pouco melhor e ao que me lembro, no silêncio ele não envia.
Quanto ao Google, sou fã boy, logo não vou comentar hehehehe
Sem sucesso, tentei buscar uma notícia de um cara maníaco por privacidade que recomenda envio de emails somente através de serviços no estilo “Envie esta notícia para um amigo”, enfileirar proxies pra navegar e sempre utilizar dinheiro para as compras. Dá pra viver assim?
Seus hábitos estão disponíveis para as grandes corporações. Desde que o conhecimento dos meus hábitos me tragam serviços personalizados, e que este conhecimento não seja disponibilizado publicamente, não me importo. Eu aceitei viver assim usando os serviços deles.
Marcos,
Realmente a privacidade é artigo de luxo na internet. Eu que sou preocupado com isso, já desencanei de várias coisas que no passado seriam diretrizes invioláveis do meu comportamento na web. Não tem jeito, estamos na era da informação, cai na rede, é peixe.
O Facebook parece que voltou atrás depois de toda polêmica, mas demoraram um bocado, motivo deste meu texto. O Google tem lá sua política que no final todos aceitamos.
A minha preocupação é na verdade com o fato das informações serem expostas sem nossa permissão, a terceiros. Isso é de dar um frio na espinha. Fora isso, eles tem todo direito de oferecer essa funcionalidade.
Talvez 1984 seja mesmo no século XXI…
Cesar,
Nossa, esse seu comentário dá no que pensar. Parece um paradoxo de tostines! Mas como o Marcos diz na resposta ao seu comentário, mesmo que o opcional seja ainda a vontade deles, ainda temos a opção de não aceitar. Invariavelmente aceitamos… :-(
Ostrock,
O sistema do Via6, eu estava sabendo. Mas preferi não comentar aqui pq não tinha certeza se já estava lançado. Parece que sim, vou olhar com cuidado.
Em relação ao Facebook, ainda bem que colocaram forma de desativar. A multidão quando faz barulho, muda as coisas.
Vitor,
É mais ou menos isso. Os cartões de crédito armazenam muita informação sobre nós também. Talvez até vendam isso para fora, sei lá, deve estar no contrato, mas creio que não nos identificam nominalmente e publicamente. Esse é o erro!
Abraços a todos!
Teoria da conspiração total. O que não deixa de ser verdade. Gostei do artigo. Quero só ver quando o Google decidir fazer o mesmo no amado-pelos-brasileiros Orkut.
Depois não adianta chorar né. =)
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